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REDES
, VOL. 25, Nº 49, BERNAL, DICIEMBRE DE 2019, PP. 47-68
A primeira dessas concepções, a Instrumentalista, oferece uma funda-
mentação apropriada para esse conceito. Ela supõe, em consonância com o
otimismo liberal, positivista, moderno no progresso, que a tecnologia,
resultante de uma busca pela verdade e pela eficiência, é neutra. E que, em
consequência, submetida ao controle externo e a posteriori da ética, pode
ser usada para satisfazer infinitas necessidades da sociedade.
Pode também servir de fundamento àquela visão que entende a tecno-
logia como a aplicação da ciência, a concepção Determinista proposta pelo
marxismo convencional. Mantendo a crença na neutralidade da tecnologia,
ela incorpora noção de que seu desenvolvimento ocorre mediante exigên-
cias de eficiência e progresso que ela própria estabelece. Apesar das profun-
das divergências ideológicas que possui com o liberalismo, o marxismo
convencional aceita também a ideia da neutralidade que está na raiz de sua
construção econômico-produtiva e social. Assim, embora atribua o desen-
volvimento das forças produtivas, no modo de produção capitalista, ao
interesse do empresário em elevar a produtividade do trabalho passível de
ser apropriada por ele, dado que garantida pela propriedade privada dos
meios de produção, esta concepção entende que, dado que é linear e ine-
xorável, este desenvolvimento é o responsável, no longo prazo, pela mudan-
ça dos modos de produção.
Dessa forma, sua sucessiva tensão com as relações sociais de produção
–escravistas, feudais, capitalistas, socialistas– levaria ao modo de produção
comunista. Não seria, então, o controle pela via da ética, como propõe a
concepção Instrumentalista, mas a revolução socialista o que permitiria que
a mesma tecnologia que hoje oprime, por ser neutra, amanhã, quando
“apropriada” pela classe trabalhadora, poderia ser por ela usada –no âmbito
de outras relações sociais de produção– para construir o socialismo.
A terceira concepção apresentada por Feenberg interpretando a contri-
buição da Escola de Frankfurt, é a do Substantivismo. Ela, nega a ideia da
neutralidade, mas conserva a do Determinismo: valores e interesses capita-
listas incorporados na produção da tecnologia condicionam a tal ponto sua
dinâmica que impedem seu uso em projetos políticos alternativos. Esta con-
cepção, ao contrário das anteriores, é pessimista em relação ao futuro da
Humanidade dado que tenderia a solapar correlações de forças
mudancistas.
A quarta concepção, que ele denomina Teoria Crítica, nega a ideia da
neutralidade, discordando, portanto, do Instrumentalismo. E, igualmente,
do Determinismo, uma vez que considera a tecnologia como portadora de
valores. Mas também não aceita a ideia do Substantivismo de que os valo-
res capitalistas lhe conferem características imutáveis que impedem a